Mobilidade Social

Em maio de 1953, Lourenço Carvalho de Oliveira, nascido na pequena aldeia da Vigia, no norte de Portugal, desembarcou no porto de Santos, depois de onze dias de viagem na terceira classe do Vera Cruz. Em sua terra deixara a mulher e três filhos pequenos, vivendo graças à solidariedade de parentes ou vizinhos.
Foi morar de favor na casa de um primo e arrumou emprego como ajudante num bar. Economizou muito, mandou buscar a família e conseguiu depois de um ano de trabalho e privações abrir uma pequena venda em sociedade com um amigo. O negócio foi crescendo: primeiro uma mercearia, depois um supermercado, a seguir outro e mais outro. Agora 35 anos depois de chegar ao Brasil, o Sr. Lourenço é dono de uma grande rede de supermercados, tendo-se tornado um dos mais influentes membros da Associação Comercial. Seus filhos estudaram até o curso superior e um deles é professor na Universidade de São Paulo.

Esse caso mostra que os indivíduos, numa sociedade capitalista, estratificada em classes sociais, podem não ocupar um mesmo status durante toda a vida. É possível que alguns deles, integrem a camada de baixa renda (C), passem a integrar a de renda média (B). Por outro lado, alguns indivíduos da camada de alta renda alta (A), por algum infeliz acontecimento, podem ver sua renda diminuída, passando a integrar as camadas B ou C. Esse fenômeno é chamado de mobilidade social.

Mobilidade Social, portanto, é a mudança de posição social de uma pessoa num determinado sistema de estratificação social.

Quando as mudanças de posição social ocorrem no sentido de subir ou descer na hierarquia social, estamos diante de mobilidade social vertical. Esta pode ser:

Ascendente, quando a pessoa melhora sua posição no sistema de estratificação social passando a integrar um grupo de situação superior a de seu grupo anterior.

Descendente, quando a pessoa piora de posição no sistema de estratificação social, passando a integrar um grupo de situação inferior.

O filho de um operário que, através do estudo, passa a fazer parte da classe média, é um exemplo de mobilidade social vertical ascendente. A falência e o consequente empobrecimento de um comerciante, por outro lado, é um exemplo de mobilidade social vertical descendente.

Vejamos agora o caso de alguém que muda de uma cidade do interior para a capital, permanecendo na mesma classe social. Esse exemplo mostra uma pessoa que experimentou alguma mudança de posição social, mas que, apesar disso, permaneceu na mesma classe social.

Quando a mudança de uma posição social a outra se opera dentro da mesma camada social, diz-se que houve uma mobilidade social horizontal.

Outro exemplo de mobilidade social horizontal pode ser o de um operário que muda de religião, ou que se casa com uma moça de mesmo nível social, ou, ainda que muda de partido político.

O fenômeno da mobilidade social varia de sociedade para sociedade. Em algumas sociedades ela ocorre mais facilmente; em outras, é praticamente inexistente no sentido vertical ascendente socialmente em São Paulo de que numa cidade do Nordeste. A mobilidade social vertical ascendente também é mais frequente na sociedade americana do que na Índia, onde praticamente não existe. Esse tipo de mobilidade é mais intenso numa sociedade aberta, democrática – como nos Estados Unidos -, do que numa sociedade aristocrática por tradição, como a Inglaterra.
Entretanto, é bom esclarecer que, numa sociedade capitalista mais aberta dividida em classes sociais, embora a mobilidade social vertical ascendente possa ocorrer mais facilmente do que em sociedades fechadas, ela não se dá maneira igual para todos os indivíduos. A ascensão social depende muito da origem da classe de cada indivíduo. Alguém que nasce e vive numa camada social elevada tem mais oportunidades e condições de se sair melhor do que aqueles que são originários das camadas inferiores. Isso pode ser facilmente verificado no ca­so dos jovens que pretendem fazer o curso su­perior. Aqueles que, desde o início de sua vida escolar, frequentaram boas escolas e, além dis­so, estudaram em cursinhos preparatórios de boa qualidade, têm mais possibilidades de apro­vação nos vestibulares das universidades pú­blicas e privadas do que os jovens provenien­tes das classes de baixa renda.

Classes Sociais

Consideramos as seguintes situações: um rico fazendeiro, proprietário de uma grande extensão de terras, onde cria gado e planta café, empregando em sua propriedade dezenas de trabalhadores, ou ainda, o proprietário de uma grande indústria na qual trabalham centenas de operários qualificados e não qualificados.
Esses exemplos são uma amostra da sociedade em que vivemos – a sociedade capitalista -, onde alguns são proprietários dos meios de produção e a maioria tem apenas sua força de trabalho. Assim, podemos dividir a sociedade capitalista em dois grandes grupos. Segundo a situação em relação aos elementos da produção:

  • Proprietários, isto é, os proprietários dos meios de produção (terras, indústrias, etc.);
  • Não proprietários, isto é, os que são donos apenas de sua força de trabalho.
Como vemos, as relações de produção dão origem a camadas sociais diferentes. A essas camadas – que se diferenciam pelo lugar que ocupam na produção de bens – damos o nome de classes sociais. Embora alguns autores usem a expressão “classe social”, simplesmente como sinônimo de camada social, aplicando-a, portanto a vários tipos de sociedade, é conveniente reservá-la para as sociedades capitalistas que a ela se aplica com maior precisão. Na sociedade capitalista existem basicamente duas classes sociais:

  • a burguesia (proprietária dos meios de produção)
  • o proletário (proprietária apenas de sua força de trabalho)
As pessoas recebem benefícios diferentes, conforme pertença a uma ou outra classe social. Por que isso acontece?
Essa desigualdade se explica porque são diferentes as relações que as pessoas mantêm com os elementos de produção (trabalho e meios de produção). De modo geral, os proprietários dos meios de produção (máquinas, terras, etc.) estão entre as pessoas de renda alta, enquanto aquelas que trabalham se situam no grupo de renda média (trabalho qualificado), ou no grupo de renda baixa (trabalho não qualificado). Da mesma forma, o prestígio social está associado às relações entre as pessoas e os elementos da produção: Os proprietários dos meios de produção sempre gozam de maior prestígio social do que os trabalhadores. Também a distribuição do poder está baseada na posição dos indivíduos em relação aos elementos da produção.

A propriedade dos meios de produção possibilita, portanto, um maior nível de consumo, mais prestígio social e mais poder. Já os indivíduos que possuem apenas o seu trabalho não desfrutam das mesmas condições dos proprietários e são obrigados a trabalhar para eles, recebendo em troca uma remuneração, o salário.
É possível então chegar ao seguinte conceito de classe social: todo grupo de pessoas que apresenta uma mesma situação com relação aos elementos da produção constitui uma classe social.

Sem perder de vista a estratificação básica em duas classes sociais, e como consequência dela, podemos classificar a sociedade quanto ao nível de consumo de seus membros. Assim, os proprietários dos meios de produção podem adquirir bens e serviços de luxo; os que exercem um trabalho qualificado podem adquirir bens e serviços de preço intermediário; e aqueles que exercem um trabalho não qualificado só podem adquirir bens e serviços de primeira necessidade.

Daí concluímos que é possível representar a população de uma sociedade capitalista numa pirâmide social, conforme seu nível de consumo, que é um reflexo do seu nível de renda:

Na base da pirâmide social localiza-se o proletariado, a classe dos trabalhadores, aquela que vive exclusivamente do seu trabalho. Acima do proletariado encontramos a classe média, também chamada de pequena burguesia, ou seja, aquela que vive do pequeno capital, como os pequenos industriais, pequenos comerciantes, pequenos fazendeiros, além dos profissionais liberais (advogados, médicos, engenheiros, etc.). No topo da pirâmide social está a grande burguesia, a classe alta: é a proprietária do grande capital, incluindo-se nela os grandes industriais, os banqueiros, os grandes comerciantes e os grandes proprietários de terra.

Concluímos então que não é possível compreender o aspecto social da sociedade capitalista (estratificação em classes sociais), sem levar em consideração seu aspecto econômico (a propriedade dos meios de produção). Segundo o nível de renda, no Brasil de hoje podemos distinguir três classes: classe alta, classe média e classe baixa. A partir delas, é possível estabelecer várias subdivisões: classe média alta, classe média baixa, classe baixa superior e classe baixa inferior.

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